terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ele sempre soube que os prados verdes pelo meio da noite eram escuros. Negros. Distantes e sem contar histórias. Por isso ele tinha que contar a dele. Ele não queria falar do mundo e de como mal ele funciona. Não queria pensar no sistema e das más politicas que o regulam... Apenas um caderno e uns desenhos rasgurados. E o vento corria sobre ele. Sentia se confortavel. Quente.
No dia seguinte acordou na sua cama. Os telefonemas ouviam-se muito longe depressa lhes respondeu a todos. Com respostas similares. O cafe era tardio, assim como a sua pressa de sair de casa. Não demorou, e estava na rua. Lendo o jornal, relembrado o sistema, e a sua vontade de aderir ao fictio para que tudo seja just perfect.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

E assim foi. O wisky sempre acaricia a garganta e o Rui não foi falar de telefones ou se o homem os respondia! Nem tão pouco veio falar dos seus...! O homem eu fitou-o sempre com aquela expressão desnuda de medo. Rui nao se cansava de repetir que o quadro lhe lembrava uma lap dance que foram ver, e que wisky sem pistacho não é a mesma coisa. Quando ele foi embora a sua sala estava mais quente. Pegou no caderno acastanhado e seguiu viagem até ao castanheiro. Sem noção de horas ou temperaturas, sai pelas traseiras. Os seus menbros depressa entraram em tremores estranhos e descompassados. Estava frio por certo, e as estrelas mais distantes contavam histórias. Histórias sobre aqueles mundos que existem e que ignoramos a sua total possibilidade de existência! O preto ternurento daquele céu torna a vida mais harmoniosa. Cheio de buracos negros carregados de descoberta! E as estrelas cadentes que sempre se concretizam...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Conto das pessoas...


Passando a mão sobre as ervas altas e vadias do seu quintal, o homem sente-se só. Lá longe um enorme castanheiro depenado serve de ponto expiatório. É para onde se dirige. No seu caderno castanho correm mais uns desenhos extravagantes que ninguem gosta. Mas ele continua a imaginá-los. Transcreve-os com mais pureza ainda. Ele não quer contar histórias, nem poemas, nem sentimentos, nem sonhos. Ele quer sentir a terra humida e amolecida enquanto se senta. Fechar o caderno e não fazer nada. Sentir frio e desconforto. Mas não sente. O ardor dentro do peito aquece os dias mais gelados. O bater incessante daquele orgão fá-lo respirar com impaciência. E os desenhos tornam-se ansiosos. Um misto de loucura com ternura compõem agora as suas novas histórias. Então prefere levantar-se e pentear as ervas longas e amarelas. Sentir aquela sensação ternurenta na palma da mão. A palma da sua mão.

Esquece a tranquilidade do seu mundo e entra outra vez na realidade. Desce os caminhos lamacentos e entre em casa pelas traseiras. E ouve-se os seus passos solitários rangendo na madeira. As pessoas ligam e fartam se de ligar. Sobre coisas desinteressantes. Ele atende. Fala em tom desinteressante, e desinteressadamente desliga o telemovel de vez. O telefone da sala começa a tocar. A sua sala. Decorou-a sozinho. Para si mesmo. Solta um sorriso sempre que olha para aquele quadro maluco que numa noite de copos nasceu. As fotografias que tirou a bambus no Japão, e aquela miúda de lá. Que miúda aquela! Os seus contornos eram requintados que nem a folha de bambu. A folha de bambu que tão delicada é. O seu rosto prendia uma expressão que ele não conseguiu nunca sugar com a sua máquina. A leveza do seu cabelo ao vento, e a forma de como ele muito lentamente acabava por poisar no rosto. Mas aquela foto que estava ali ao lado da janela, tinha uma expressão que ele roubou antes de voltar a Portugal. Mas ele nunca percebeu aquela expressão. Por isso a colocou, ali. Eternamente exposta, do lado esquerdo da janela. Janela esta, que está sempre aberta, com a cortina de linho branca. Cortina que sempre acompanha o vento muito suavemente, produzindo movimentos diferentes. Que nem o cabelo da japonesa! Aquela japonesa ao lado da janela de beleza pura, com a expressão contida. Os estalos da lareira que está acesa há já dois dias capta-lhe a atenção. Preenche-se de conforto e decide ligar ao Rui. Lá para baixo na cave tem um whisky que seu pai outrora lhe ofereceu num Natal igual aos outros. Não que seja especial. Mas é bom na boca certa. O rui.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Será que tens medo da velhice ou da solidão!?
Será que tens medo de ganhar ou de perder?!
Será que tens medo de foder ou de amar?!
Será que tens medo de te vingar ou de menosprezar!?
Será que tens medo de abandonar ou de te acovardar?!
Será que tens medo da luta ou do esforço?!
Será que tens medo de ter amigos ou de ter um amigo!?
Será que tens medo de trair ou de te libertar?!
Será que tens medo de ouvir ou de falar?!
(...)
Muitas perguntas me fizes-te ontem. Não tinha como te responder. Não sabia a resposta. Para nenhuma. O inconsciente toma partido da alma. E as respostas não surgem. Só as acções. Só os momentos. E voltavas a fazer essas perguntas doidas. Era como se me perguntasses porque sou Portista. Porque prefiro uma ouvir indie do que pop. Não te sei responder. Só sei que é assim. A resposta talvez esteja desde sempre no medo. No nosso medo. Da nossa vergonha. Da nossa culpa. Da sinceridade que nos engole, como se fosse mais facil mentir. Manipular e enganar. A verdade é inconsciente. É a alma. E ser-se português é ter-se orgulho. Orgulho só por sê-lo! E onde está esse orgulho quando temos medo... e erramos?!
(...)
Permutação. Monstruosidades inerentes em teu ser. Quão dificeis poderão ser as tuas respostas para que as mantenhas sempre ocultas. Quem teme a verdade teme a vida. Quem teme a vida, segue a vida normalmente. Sem pensar. Sem se estragar. Sem conhecer. Sem lutar. Sem inovar. Sem merecer. Sem perder nem ganhar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Escuto!
Tá calado!
Não me venhas com confusões!
Eu sei o que vi!
Ah não viste não!
Há coisas que não se veêm! Procura bem!
Oh, eu não vi...
Tu nunca queres ver!
Ler e escutar!
Sentir, abandonar!
Escuta...
O som do piano vem de lá de dentro...
Uma sala de jantar clássica.
Copos gigantescos e mesa arredondada!
Grandes velas e guardanapos assombravam a mesa.
Grotescos candeeiros pendiam do tecto.
O que vês?! Vês cortesia e um livro de regras,
as quais, alguem roubou! E enterrou!!
Vês o gotico amedrontado pelo clássico.
Vês o alternativo aterrorizado por eles...
Eles! Eles que roubam...! Pilham! Mentem!
Manipuladores do senso comum.