segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Passageiros!

Estava ali de passagem. Entro e saio de casa e não vejo ninguém. Pior do que se sentir intruso, é sentir-se ignorado. Se bem que ser-se ignorado, sempre me meteu muito pavor, seja em que circunstancias for. Saio cheio de frio e com pouca roupa. Queria sentir o tempo. Vejo luzes, cores, simetria, dessimetria. Casas. Hotéis e lojas. Jardins artificiais. Sorrisos e contrastes. Momentos. Olhares que cruzam aqui e ali. Pessoas que me abordam. Pessoas que eu abordo. Sons. Vento. Nostalgia e cerveja. Lá em baixo, perto da escola, há sempre um pub velho para onde vão os que não tem para onde ir. Eu não tenho para onde ir. Mas não vou para um lugar que já esta rotulado nessa condição. Que sobrelotação de ideias. Sentimentos rotulados. Não podia ser mais oportuno.

Nunca mais a vi. Nunca mais me lembrei, nunca mais a procurei. Foi mais um momento intenso e cheio de coisas que nunca irei descobrir como elas são. E porque são. E de onde vêem. E porque é que afinal não o são.

Adoro a beira do rio. Adoro ver aquele suave balançar. Tanta água e tão poucas ondas. Águas inofensivas. Sentei-me ali a pensar. Porque é que não gosto das coisas que não gosto!? Se deveria fazer um esforço para não gostar menos um pouco. Ou se deveria desgosta-las ainda mais. Ou deixa-las em paz. Ou elas que me deixem em paz. Coisas boas ocupam talvez uma a duas horas por dia. No meu dia. Ao fim de semana talvez ocupe grande parte do dia. Incluindo o banho matinal e as tostas meias queimadas. Gosto de ver os cereais no leite do meu companheiro de quarto a aumentarem de tamanho na tigela dos simpsons. Camadas deles. E os seus jeans apertadissimos. Rouxos. Pretos às vezes. Depois olho para a governanta e ela sorri. Não diz nada.

Naquele sábado em que me sentei à beira rio, fui feliz. Escrevi uma prosa sobre a chuva oblíqua e desenhei o teu rosto. Moribundo. Tinhas uma expressão de perdida. No tempo e no espaço. A tua saia rosa não combina com este tempo invernoso. Os teus óculos redondos que parecem ter passado pela segunda grande guerra mundial, o teu cabelo apanhado, transmitem uma expressão de timidez, simplesmente deliciosa. Mulher frágil. Então desenhei-te de cabelo solto sem óculos. De queixo levantado, a tua expressão era de superioridade. Sem medos. Mas quando eu te tive nos braços... Tudo era diferente. Eu vi-a a mulher frágil a enroscar-se no meu abraço. Tinhas medo. Os teus olhos estavam escuros e assustados. A tua expressão inquietante. Como adivinhar o teu desejo?!
Agora o teu rosto é um fantasma para mim. A tua alma é um enigma e os teus desejos insaciáveis!