terça-feira, 7 de junho de 2011

Não sei bem ao certo.... Traição!!!!!

Bem, eu sei que usar males para atingir fins está completamente errado. Contudo apercebo-me que ás vezes se formos guiados pelo bom censo e pelos princípios puros e ingénuos, se o resultado for errado, torna-se contudo o caminho certo. Melhor fazer as coisas certas mesmo com repercussões negativas, do que fazer as coisas erradas para atingir resultados positivos.

(…)

            “Sei que a tua amizade está impossibilitada para mim tal como o teu amor. Mas mesmo assim, adoro ver-te a caminhar descontraída, quando te vejo a sorrir ingenuamente, o meu dia fica completo.


(…)

            Saio de casa ligeiro, e ainda não sei que horas são, só sei que são horas de eu ir. Tomo um café para que os meus olhos se mexam com mais facilidade e sentir aquele gosto delicioso durante uns minutos na boca. Chego ao trabalho atrasado como sempre e espreito para o escritório, e reparo num amontoado de papeis, pastas, copos de café, o computador ainda ligado, e vários papeis soltos e espalhados por cima de uma secretária com uma pequena chapa de metal que indicava o nome “Henrique Borges”. É terrível ver assim uma desorganização á segunda-feira de manhã, mas como a secretária é a minha acho que já ninguém dá importância a minha inata desarrumação.

            Sento-me e olho para o computador, enquanto penso e recapitulo o meu fim-de-semana. Foi óptimo, festas, copos, amigos, tempo sempre preenchido. Mas quando chegava a casa com a camisa ensopada em água, e me deparava com o silêncio próprio do meu lar, sentia um vazio. Nunca ninguém tivera antes o dom de preencher este meu vazio, mas tu tiveste. Parece que às vezes sinto a tua presença a pairar no ar, o teu cheiro no quarto, as tuas mãos na cozinha, o teu carinho na sala. Pensei por momentos que tu eras aquela, a única mulher com quem era capaz de partilhar o mais ínfimo segredo, terrível ou bom, eu sabia que tu estavas ali para mim. Tínhamos programas excelentes, nunca estávamos quietos em casa, no trabalho, nas saídas, em nada. Éramos eléctricos, e nos amávamos! Mas como ridículo homem que sou, as minhas fraquezas surgiram por varias vezes, talvez tal como as tuas, e tiraram-me o alento da minha vida, o perfume da minha alma… tu! Quando me dizias entre dentes, “… que a dor do ciúme é igual tanto para o homem e como para a mulher, se o amor for de facto verdadeiro!”, eu não acreditava. Eu dizia, que “…os homens, como galantes natos que são, por vezes as traições acontecem, mas eles já não se lembram na hora seguinte quem era a infeliz da cobaia nem de onde vinha… mas as mulheres são diferentes, a traição proveniente delas, dói muito mais”. E tu, ponderando o que eu dizia, insistias para que eu percebesse “… mas a dor, que o ciúme provoca lá dentro, é igual de mulher para homem se o amor existir mesmo ”. De facto, discordávamos em muitas coisas, tu eras uma típica feminista, e eu, um típico machista! Fantásticos que éramos, foram estas diferenças que nos aproximaram, e que igualmente nos afastaram. De facto, na minha ideologia, nunca pensei, que se poderia despedaçar de tal maneira um coração, em que ele jamais tivesse possibilidades de retomar ao que era anteriormente.

            Caio em mim, e retomo á passividade do meu escritório, ergo lentamente a cabeça e vislumbro o meu chefe, especado a olhar para mim com cara de sério e preocupado. Sempre fora uns dos seus melhores agentes de campanhas publicitárias. Fazia as melhores campanhas de marketing e tinha ideias geniais para toda a publicidade em geral. Contudo, tenho vindo a tornar-me um desleixado e despreocupado. E sei que as pessoas notam, mas já não me importo mais, vou esperando que passe e sei que os meus colegas também esperam tal como eu, mas por vezes, talvez me tenha excedido em várias situações, e o enfadonho do meu patrão deve ter-se apercebido. Mas eu nunca imaginei que tu me fizesses tanta falta, nunca imaginei que pudesse ficar assim um dia.

            Aconselhou-me a pegar nas minhas coisas e tirar umas ferias, para quando voltasse não haver mais desculpas e deslizes. Sei que ele sempre adorou o meu trabalho e estava a dar uma última hipótese ao retorno da minha inspiração.

            Aceitei com agrado, peguei nas minhas coisas e conduzi em direcção a casa, e a ti. Mas o único que me esperava incansavelmente em frente á porta e abanando a cauda era o pobre Scott.”

(…)

            “Não acredito que me atrasei outra vez! Entro a correr sem olhar para as caras de desagrado dos meus colegas e peço mil desculpas entre dentes. Enquanto visto a minha bata branca ouço os latinos incessantes dos cães enquanto que os gatos se empolgam todos e fazem gemidos de leões. Não percebo às vezes este meu emprego. A bicharada há-de de ficar sempre doente de manhã. Engulo o café que me colocaram na secretária e queimo a garganta de uma ponta á outra.

            Adoro o meu trabalho e sei que o faço dentro do que se chama “satisfatório”. Mas todos os dias entro aqui, e olho para os meus clientes ansiosos e tenho sempre medo, de no meio de todos surgir um lindo labrador castanho de nome Scott que me fará uma festa interminável.

              Não quero de modo nenhum voltar a ver o meu pequeno Scott, que já fora meu em tempos, a entrar aqui desajeitadamente e desejoso por me ver. Não sei se me arrependo ou não de nunca o exigir, mas não sou assim uma rocha tão fria, e deixei parte do meu amor com ele naquele bichinho baboso. Tento afastar todos estes meus pensamentos auto destrutivos e tento trabalhar concentrada.

            O dia foi completo e passou num instante, não vou a casa dos meus pais hoje! Desde que fui morar sozinha, ficaram duas vezes mais velhos e três vezes mais chatos. Sei que as coisas não me correram bem, mas isto é a triste sina de uma mulher que amou e confiou. Agora tenho de me desenrascar sozinha e encarar a vida como sempre encarei, com alento e determinação. Entro no meu pequeno mas acolhedor apartamento. Faço a minha rotina habitual e descanso um pouco em frente á minha janela acompanhada de um chá, vendo as gotas de chuva suavemente a escorregarem pela vidraça abaixo. É impossível não me recordar de ti, das tuas gargalhadas puras e impiedosas, que me faziam rir mesmo quando não havia piada. Das conversas vazias de assunto que tínhamos, mas cheias de loucura e paixão. Adorava quando entravas em casa tu, e o Scott com lama até aos pés e iam a correr para a casa de banho e chafurdavam aquilo tudo. Arrumava sempre para ti, cuidava de ti, cozinha para ti sempre com muito carinho e tu sabias disso. Vias que fazia as minhas tarefas com dedicação e prazer, e idolatravas-me por isso. Eu fazia-as para ti. Agora, pouso a chávena em cima do televisor, e deito-me no emaranho de cobertores que tenho no sofá e não pretendo sair de casa por coisa alguma neste mundo. Não tenho qualquer tipo de vontade de cozinhar, ou de fazer seja o que for. Tenho pena de mim mesma quando me lembro de ti, apesar de tudo, ainda penso em ti e sinto o teu cheiro envolvendo-me nos teus braços! Quando te deitavas a meu lado e adormecias completamente descontraído e satisfeito eu observava a tua plenitude. Olhava para ti, e fotografava aquele momento no meu inconsciente, e logo depois adormecia eu, livre e preenchida!

            Sei que me mostrei forte e determinada, fria e decida, mas as coisas que tu não sabes…! Sabias que ainda guardo as rosas, mas agora secas e bem tratadas, que me ofereceste naquele dia no meio do nada?! Quando entraste de rompante pela porta adentro e disseste que eram para mim, eu questionei-me, e disse-te que aquele dia não era nenhuma data em especial. E tu com aquele sorriso sedutor, abraças-te me, olhas-te nos meus olhos e deste-me um beijo meigo e cheio de paixão, e disseste que é nestes dias que me amavas mais, que eram praticamente todos! Os dias sem nada, sem coisa alguma, sem data nenhuma, sem desculpa aparente, mas passados comigo, eram os dias cheios de tudo! As coisas que me dizias… Sabias que ainda durmo com uma camisa tua que sei que nunca tiveste coragem para a vir buscar nem eu de a ir entregar?! Talvez gostasses que eu guardasse algo teu, não sei. Mas lembro-me nos sábados de manhã, quando a minha cara estava sempre no auge do terrorífico e o meu cérebro funcionava a dez quilómetros por hora, em que só tinha capacidade para vestir aquela camisa tua, tu adoravas e rias-te como uma criança, dizias que tinha um ar de vilão derrotado. Eras um malandro cheio de graça. Nos dias que correm, contento-me a olhar pela minha janela e ver a vida a andar lá fora e a minha sempre no mesmo charco. Foste único para mim, amei-te e fui tua, naquele tempo em que passamos juntos.

            Agora olho com negrura e saudade para nós e para o que fomos em tempos e a nossa vidinha louca, que eu tanto idolatrava, sei que a Laura que existiu em tempos sucumbiu juntamente com aqueles dias. E adormeço lentamente com a força do cansaço e desmotivação, imaginando como estás, agora.”


(…)


            Henrique talvez tentara de tudo para esquecer Laura, quando viu a grandiosidade do erro que causou no coração de Laura e sentiu pela primeira vez o sabor da frieza e determinação que era tão própria da sua companheira. Ele conhecia-a como ninguém, e sabia que ela nunca o iria perdoar e sabia que nunca ela voltaria a fazer o seu sorriso sincero para ele. As suas mãos não mais encaixariam nas suas, nem o seu rosto pousaria mais sobre o seu! Ele desejou muitas vezes ter recuado no tempo e ouvir com atenção as palavras de Laura, as palavras que sorrateiramente saíam da sua boca e que parecendo sem significado algum, eram afinal a chave do seu coração. Fora parvo e cometeu um erro, que aos olhos de Laura era e é imperdoável. Mas a determinação dela, assombrou-o, ele sabia que Laura no seu íntimo talvez tenha sofrido, mas não tanto quanto ele. Pois Henrique ainda sofre, e ainda a deseja. Ela fora mais forte e fria, a facilidade com que ela fez as malas e foi viver sozinha deixou Henrique abismado com a força que mais uma vez a sua companheira demonstrava. Sabia que Laura saíra de casa convicta que ele errara com ela no que ele era mais fraco, e no que ela era mais forte. E Henrique sabia disso, e talvez por isso é que sente que Laura já não mais sente a falta dele, nem muito menos a vontade de o ver só mais uma vez. Talvez a tenha desiludido de tal forma que tornou a ida mais fácil para ela.

            O tempo descortinou as personalidades, destes dois que em tempos foram loucos amantes, e desenhou o triste destino.


            Estávamos numa quente noite de Verão, Henrique combinou encontrar-se com Laura num barzito perto da praia, ela chegaria atrasada do trabalho nesse dia, e eles acharam melhor encontrarem-se depois. Enquanto Henrique esperava impacientemente por Laura na companhia agradável dos seus amigos, ia bebendo uns copos e animando a festa. Teresa tinha ido nesse dia, acompanhada de uma outra amiga, a jovem Luísa! A amiga de sempre de Laura não perdia uma, sempre á espreita de conhecimentos novos no campo masculino, Teresa era bonita e aprumada, por isso tinha sempre pontos a seu favor no que interessava na matéria de homens. Os seus olhos pretos rasgados deixavam no ar o seu lado misterioso, e as suas pernas bem feitas eram um convite a qualquer um para uma saída mais extravagante. Era uma sedutora infalível e os assuntos acabariam por cair na mesa, e Henrique escutava as conquistas e situações extravagantes de Teresa com espanto e agrado. Tiago, com uma aparência de surfista e um humor desigual conversava animadamente com Diogo e com Luísa.

            Luísa, era entre as três amigas a mais reservada, não falava muito sobre si nem muito menos sobre os outros, causava sempre uma onda de intriga no ar, visto que as suas conversas nunca passavam do banal. Mas Henrique naquele dia decidiu tirar aquilo a limpo. Afinal de contas, Luísa ía inúmeras vezes lá a casa, era amicíssima de Laura e Teresa, e não conhecia ainda bem aquela miúda, e estava na hora de tentar perceber aquele cérebro feminino de uma vez por todas.

            Henrique e Luísa já bebiam copo atrás de copo, e Luísa começou a fraquejar, falava que seu irmão morrera na tropa, seu único e maravilhoso irmão como ela mesma dizia, e que a sua vida de filha única tornara-se um caos, e que desde então Laura tinha sido um apoio sublime na sua vida. Os casos com os homens que tivera não duravam mais do que um mês, tornavam-se todos possessivos, curiosos e demasiado Homens, machistas! Henrique conseguia ler pelo brilho dos seus olhos, naquela jovem mulher de 22 anos, que tivera uma vida sofrida, sem carinho nem amor, que nunca tivera um companheiro que a respeita-se nem muito menos a amasse tal como ela amava Laura. A sua família sempre a trataria como a pequena menina dos papás, de infância imortal e de presença constante, pobre miúda, seus pais ainda não haviam percebido que ela crescera!

            Contudo, Henrique percebera agora com mais certezas, o porquê do apoio constante que Laura sempre disponibilizara para Luísa. Ele sabia que a sua companheira sempre tivera aquele lado acolhedor fosse para quem fosse.

            O álcool começou a subir-lhes a cabeça mais rápido do que calculavam, e Luísa não se sentindo bem, pediu a Henrique que a acompanhasse lá fora! Ambos avisaram os amigos, e logo se aprontaram a sentar na areia ao som da rebentação das ondas, em frente ao Bar, ainda nauseados com o cheiro de álcool. Com a brisa salgada a bater nos rostos a boa disposição retomava, e fui aí que aconteceu. Que o lado fraco de Henrique prevalecera como sempre Laura tivera medo que acontecesse. Luísa começava a insinuar-se a Henrique, e confessou-lhe que o amava desde a primeira vez que se conheceram, mas que nunca dissera nem demonstrara nada antes, com medo de perder Henrique e Laura.

            Mas uma mulher perdida emocionalmente, e agora psiquicamente devido ao excesso de álcool, porque não comer o companheiro da sua melhor amiga?! Porque não haveria ela de saciar a sua fome com o homem que mais adora no mundo agora que tem uma digna e única oportunidade?! Porque não haveria ela de trair a confiança de todos os seus amigos e amigas ali naquele momento?! Porque não fazer amor com ele ali mesmo, e passar por cima da sua própria dignidade e valores?!

            Claro que uma mulher quando chega a pontos extremos é capaz de tudo, aproveitando-se do estado lastimoso de Henrique, a traição consumou-se. Ela foi-se aproximando dele e sem que Henrique discernisse bem naquele momento o que era certo ou errado, quando já ela o tentava beijar já ele estava com as mãos nas calças.

            Laura chegara, e pediu imensas desculpas pelo enorme atraso, mas teve que levar o Scott á rua e ele hoje parecia não querer voltar, estava irrequieto e farejava tudo! Cumprimentou tudo e todos amavelmente, e perguntou por Henrique. Teresa aprontou-se a dizer á amiga que Henrique levou Luísa a apanhar ar na praia, visto que a miúda estava encharcada de álcool, e com certeza eles voltariam rápido. Laura sentou-se á beira dos amigos e seguiram-se as conversas disparatadas. Mas Laura não estava bem, não conseguia ouvir com nitidez as conversas dos amigos, a sua mente estava longe, estranhou aquele comportamento de Henrique, e mais estranhava a demora. De repente, levantou-se e disse a Teresa que ia à casa de banho e voltava num instante. Contudo, a sua vontade estava bem longe daquele cubículo que fica nas traseiras do Bar, estava sim focada no areal e nas pequenas escadas de madeira que começava a descer em direcção á praia. Procurava Henrique e não o achava, era tudo tão estranho, em qualquer altura, ele estaria á sua espera impaciente pela demora. Mas desta vez não, estava a passear com a Luísa, e ainda para mais alcoolizada. Mas que peripécia! Foi então que viu dois vultos… Perto do mar, com a rebentação das ondas a sussurrar-lhes ao ouvido o pecado, a abafar o som dos movimentos! O luar sobre o ondular do calmo mar a iluminar a negrura da praia, a iluminar a podridão!


- A Laura, Teresa!? Ainda não chegou?! Onde está!? – Henrique estava ofegante e assustado. Chegou muito antes que Luísa e parecia impaciente.

- Calma Henrique, ela á pouco disse que ia à casa de banho, deve mesmo estar a sair. E a Luísa não estava contigo?! Estas todo molhado! Que se passou?! – Teresa parecia totalmente confusa com a situação, estava a passar-se alguma coisa que a sua mente perversa ainda não tinha compreendido.

- Não sei da Luísa, deve de estar para lá… precisava mesmo de refrescar a cabeça, estava a ficar degradante!

- Da cabeça aos pés?! Calma rapaz, nem parece que costumas beber uns copitos de vez enquanto.

- Mas então a Laura já esteve aqui?! E esperou muito tempo por mim?!

- Nem por isso Henrique, contamos o porquê de não estares aqui e ela decidiu esperar por ti aqui! Mas afinal o que se passa aqui!? – Teresa estava a perder o fio á miada, olhava incrédula para Henrique e passava os olhos para a mesa, onde Diogo e Tiago escutavam a conversa também com um pouco de surpresa estampada nos rostos.

- Ela nunca mais vem… tens a certeza que foi à casa de banho!? Não se passa nada, só estou um pouco ansioso!

 - Ansioso?! A Laura só foi à casa de banho, e tu tas ansioso?! E a Luísa que nunca mais aparece. Deixaste-a sozinha?!

Até que então, alguém se levanta e usa um tom de voz forte e decidido:

- Mas onde se meteu afinal a Laura e a Luísa?! Vou procurar a Luísa, e tu Henrique em vez de fazeres tantas perguntas, nada como ires bater à porta do WC feminino – Interveio indignado Tiago, a começar a achar estranho também toda aquela situação, o seu amigo apareceu sem qualquer vestígio de Luísa, mas pelo menos bem mais lúcido, completamente encharcado de água salgada e com uma cara de puto quando faz borrada! Ligeiro e decidido saiu em direcção á praia em busca de Luísa.

Ficaram todos pávidos a olhar para Henrique, que permanecia no mesmo local, em pé e com a mesma cara de assustado. Algo estava de facto a passar-se ali e ninguém estava a conseguir perceber. Perante a situação, Diogo pergunta a Henrique se ele estava a sentir-se bem e senão seria melhor sentar-se enquanto que ele chamaria por Laura. Henrique respondeu negativamente com a cabeça, e foi caminhando lentamente em direcção aos fundos do Bar. A música ecoava nos ouvidos de Henrique e proferia sons estranhos para o seu cérebro. Henrique estava desnorteado e com receio de bater à porta e ninguém responder, já não estava em nenhum bar, estava num túnel escuro sem qualquer saída… a menos, que alguém respondesse á porta! Foi então que chegou enfim à porta daquele complexo feminino, tentou aprumar-se um pouco. Dera um mergulho no mar, quando acordou e vira o que tinha feito. Queria lavar-se daquela sujidade.

Bateu bem leve na porta e uma voz feminina sussurrou umas palavras que não se ouviram minimamente, pois parecia que vinham de dentro de uma caixa de madeira. O seu coração ficou em pulgas. Estaria Laura ali, e não tivesse visto o espectáculo medonho!? Teria ela nunca dali saído e ele estava apenas a endoidecer com o sentimento de culpa?! A sua dama estaria de facto ali…?! As suas emoções estavam a mil, e a porta começou então por fim a abrir-se, por detrás saiu uma natural e descontraída figura feminina, mas a de Luísa. Especado e completamente perdido, Henrique entrou quase em choque. Mas que desilusão! Laura não estava ali, Laura havia ido embora, e porquê?! Porquê?! Teria ela visto!? Será?! Não podia ser… Henrique recusava-se a acreditar. Mas quando olhou novamente em frente era sim, Luísa que o olhava com medo. E sem nada dizer, Luísa desapareceu pelo corredor, com a gola da blusa a esconder-lhe a face direita e a sua mala tombando para todos os lados com a pressa de movimentos, como que tentando esconder a vergonha e a situação que causara, não só para os outros mas para si própria também.

(…)

….


- Porquê Laura?! Se eu te amo mais do que tudo, porquê!? Se te quero e desejo mais do que tudo porquê?! Eu não queria nada disto… Tu não merecias nada disto, eu sei! Mas perdoa-me! Perdoa-me… porque o coração não sente o que o corpo faz, e o meu coração só te sente a ti!


Um choro miudinho, desenlaçou as palavras mais duras que Henrique poderia ter ouvido:

- Porque te adoro demais, e foste e tens sido a minha vida e vivo para ti, mas… mas quando um coração parte, e se estilhaça em mil pedacinhos, jamais ficará como anteriormente, jamais os meus olhos olhariam para ti da mesma forma, já mais eu confiaria em ti… jamais o meu coração bateria da mesma forma, não mais a minha saliva secaria com o frenesim de te amar… magoas-te me! Como que alguém fica paralítico para sempre… não me procures mais! Nunca mais!

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