terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Ninguém sabia como ela havia morrido. O seu corpo flutuava silenciosamente sobre o Thames. Aquele branco pálido da sua pele reluzia. E as coisas continuavam normais. Os carros circulavam à esquerda, os autocarros continuavam cheios de loucura e tu ali morta e abandonada. O céu estava escuro. Limpo, mas escuro. Negro. As coisas continuavam a fazer sentido para os outros. Como não quebrar agora. Como não mergulhar agora no Thames e deixar-me levar... Eles depressa te tiraram, subtilmente. E fui te identificar. Pálida e sem expressão. Rosto sem vida. Sem a tua alma, já não eras mais tu. Virei costas e juntei-me aos pensamentos. Encolhi-me e fugi. Tudo me espezinhava a alma e ardia. Os fastfoods colados uns aos outros, e os prédios gastos e inúteis. O supérfluo carregando às costas a inutilidade. Aquela cidade. Quem te fez isso... Quem te fez isso sei que vou encontrar, e estou preparado para a expressão que vou encontrar! Vou ver uma enorme expressão de futilidade à minha frente. Igual a todas as coisas que não fazem sentido nenhum, mas existem pessoas suficientemente estúpidas para desejá-las. Sentei-me no meio da Russell Square. Pequena mas tão confortável. Ninguém me olha. Ninguém passa. Os esquilos, esse não me incomodam, porque são reais. E árvores são reais, assim como vento gelado a fazer-me lembrar porque deixo crescer a barba. E aquela relva com um toque tão humano e artificial levam-me novamente aos monstros. Levanto a cabeça e observo a esplendorosa arquitectura gótica de Londres encoberta pela penumbra da noite. Nunca mais te vejo. Nem te sinto. Os teus prédios ainda ali estão e a tua faculdade à minha frente. E as pessoas continuam a sorrir e a caminhar em frente. Vou ficar aqui hoje. A inspirar e a expirar... Inspirar e expirar..."

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